Ele
criou o primeiro videogame doméstico da história, o Odyssey 100
(que seu irmão mais velho deve ter jogado na infância), e deu
origem a um mercado multibilionário, maior que Hollywood
O
engenheiro alemão Ralph Baer é um sujeito modesto. Criador do
primeiro videogame da história, o Odyssey 100, ele insiste em dizer
que não passa de “um engenheiro que deu sorte com sua invenção”.
Mas, para quem é aficionado em jogos eletrônicos — uma
“brincadeira” que movimenta, só nos EUA, mais de US$ 10 bilhões
por ano —, Baer é mais do que um inventor sortudo. Aos 87 anos, é
uma lenda viva. Sem ele, alguns dos maiores games de todos os tempos
talvez nunca tivessem existido. “Sempre imaginei que um aparelho de
TV poderia fazer algo mais do que exibir programas e comerciais. Mas,
na época, nem desconfiava o que estava prestes a inventar”, afirma
Baer.
Apesar
de todo o ineditismo da façanha, Ralph Baer lembra que não foi nada
fácil vender a ideia. O protótipo — batizado inicialmente de
“Brown Box”, devido à semelhança com uma caixa de sapatos —
chegou a ser mostrado para grandes empresas, como RCA, Zenith e
General Electric, mas nenhuma se interessou. Até os mais próximos
torceram o nariz para a engenhoca. “Meus amigos perguntavam como eu
conseguiria ganhar dinheiro com aquilo.” Mas Baer não desistiu.
Até que a Magnavox — braço da Philips holandesa — se propôs a
lançar o produto. Já rebatizado de Magnavox Odyssey — ou,
simplesmente, Odyssey 100 —, ele chegou ao mercado em março de
1972.
Para os padrões atuais, o Odyssey 100 é capaz de
provocar risos. O videogame não marcava pontos, não reproduzia sons
e só exibia imagens em preto e branco. Ganhou inúmeras outras
versões até 1977, quando foi lançado o último Odyssey, o 2100,
que fez bastante sucesso no Brasil.
*O
senhor ainda joga videogame? Qual é o seu jogo
favorito?
Baer: Baer: Sempre
foi e continua sendo pingue-pongue, dá para acreditar? [risos]
Apesar do fato de ser feito com gráficos muito primitivos, é um
jogo bastante interessante. Mas já joguei muito Pac-Man e Space
Invaders também. Dos atuais, prefiro o Wii. Na minha opinião, os
jogos de Wii retomaram a ideia original da diversão em família. São
jogos que exigem, por parte do jogador, interação física. Mas,
confesso, só jogo mesmo quando meus netos vêm me visitar.
*E
o senhor está envolvido em algum novo game? Baer: Ah,
sim! O tempo todo. Mas, infelizmente, sobre isso, não posso falar
muita coisa...
*Como
avalia sua importância na indústria dos
videogames?
Baer: Baer: Sempre
pensei que um aparelho de TV poderia fazer algo mais do que
simplesmente exibir programas e comerciais. Tive a ideia de fazer
algo interativo em 1951, mas o projeto só avançou mesmo em 1966. O
conceito de jogos eletrônicos usando um aparelho de TV era um mundo
em constante mudança. Um verdadeiro paradigma. Na época, eu não
desconfiava, nem remotamente, o que estava prestes a inventar.
*Qual
é a lembrança mais forte que guarda do primeiro crash do mercado de
videogames, em 1984?
Baer: Baer: Ainda
hoje, lembro das pilhas de cartuchos da Atari sendo enterradas em um
aterro sanitário.
*Qual
era a reação das pessoas quando o senhor apresentava o protótipo
do que viria a ser o primeiro videogame da história?
Baer: Reconheço
que o projeto era novíssimo. E de difícil entendimento também.
Para falar a verdade, eu não conseguia, sequer, convencer os meus
amigos. Muitos perguntavam para que serviria aquele pingue-pongue
virtual. [risos] Outros não imaginavam como eu conseguiria ganhar
dinheiro com aquilo. Em outras palavras, era praticamente impossível
imaginar o que estava por vir.
*Como
é a sua relação com Nolan Bushnell, cofundador da Atari e que,
dizem, roubou a sua ideia original do jogo Pong?
Baer: Baer: Tenho
tentado, repetidas vezes, me encontrar com Bushnell. Sempre procurei
ser o mais cordial e amigável possível com ele. Mas nunca recebi
uma resposta. Quando uma determinada relação não é recíproca,
não há muito a fazer. É ir embora e procurar se associar com
pessoas que não têm esse tipo de problema.
*O
senhor anda às voltas com um livro de memórias. De tudo o que fez,
do que mais se orgulha?
Baer: Baer: Como
qualquer pai ou avô, tenho orgulho da minha família. E, é claro,
das minhas realizações profissionais também. O videogame é apenas
uma delas.
*Há
quem diga que, na época, o Odyssey não alcançou o sucesso
esperado? O que o senhor pensa disso?
Baer: Baer: Mais
de 350 mil aparelhos do Odyssey foram produzidos e vendidos até
1974. Para uma máquina que apresentava uma maneira totalmente nova
de jogar, se isso não é sucesso, então, sinceramente, não sei o
que é sucesso.
*Recentemente,
Call of Duty: Modern Warfare 2 vendeu, em um só dia, 4,3 milhões de
cópias. Como o senhor avalia a indústria dos videogames? Baer: O
futuro da indústria de videogames é brilhante. Há uma variedade
crescente de gêneros, que continuará a atrair um número cada vez
maior de admiradores. Mas não se iluda. Como em qualquer outra forma
de arte, como livros, filmes e CDs, haverá sempre uma sucessão
interminável de videogames muito bons. Mas haverá, também, uma
tonelada de lixo.
*Que
conselhos daria para quem quer ingressar no mercado dos
videogames?
Baer:
Baer: Conselhos?
O mesmo conselho que eu daria para qualquer pessoa em qualquer outro
negócio: não espere fazer um milhão rápido. Faça o que você faz
de melhor. Você vai ser feliz e, quem sabe, até rico.
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